15 de nov. de 2010

Necessário vos é nascer de novo.

Compreender as coisas do espírito constitui-se numa impossível alçada ao ser natural, isso porque “[...] o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Co 2.14).. A fé é um dom, o qual nós não podemos produzir, pois, “vem de Deus” (Ef 2.8). Ela é “dada aos santos” (Jd 3), e ela “vem pelo ouvir, e ouvir a palavra de Deus” (Rm 10.17) Se um morto espiritual olhar ao céu, em busca de Deus e ansiá-lo, assim como uma corça brama pelas correntes de águas límpidas (Sl 42.1), tão somente o fará pela força atrativa do convite de Cristo a chamá-lo: “... Vem para fora...” (Jo 11.43). A ação Soberana de Deus ao nosso favor, regenerando-nos e concedendo-nos à fé, nos porá ao chão, arrependidos de nossos pecados, e nos inclinará ao desejo de servi-lo, pela confiança em seu sacrifício substituto. E quando de pés pela graça que nos atrai para o reino do filho do se amor (Cl 1.13), odiaremos o que ele odeia (Pv 8.13) e amaremos os seus incomensuráveis deleites. Doravante prosseguiremos, sendo alvos de sua santa vontade, que operará em nós, tanto o querer servi-lo, como efetivará nossa piedosa servidão a Ele, forjando nosso caráter à semelhança de Cristo. A salvação não está sobre nossos ombros fracos, nossos pés oscilantes, corações inveteradamente perversos, e ânimos débeis, mas sim em sua Soberana e magnífica ação de salvar pecadores, e fazê-los trilhar em seus inescrutáveis caminhos, por meio de seus santos propósitos, para o louvor de sua imponente Glória. 

São vários os textos da Escritura que poderão ser evocados para se provar o comprometimento de Deus sobre aqueles a quem ele regenera. Deus “nos gerou de novo para uma viva esperança” (1 Pe 1.3); Nos “vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,” (Ef 2.1); Nos “vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,” (Cl 2.13); “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho.” (1 Jo 5.11); “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude;” (2 Pe 1.3).  Tudo vem dele, de modo que, se estou agora vivo, sendo eu, por natureza, morto em meus delitos, isso devo a sua misericórdia, pois, “a tua palavra me vivificou” (Sl 119.50). Essa ação não é sinérgica, ou de iniciativa humana. Não é levada a efeito por Deus quando, na ânsia de ver o fruto do seu trabalho iniciado, partilha tal responsabilidade com a competência do homem, ainda sem Deus, como uma suposta capacidade de favorecer-se. Deus é aquele quem guia todo o processo. Ele opera em nós “tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” (Fp 2.13). A Salvação é engenhosidade divina, obra das mãos do Deus que a orquestrou, e não meritoriedade humana. Em João 3, por meio de uma afirmação e um questionamento de Nicodemos, detectamos o que seria o nascedouro de duas correntes que se dizem favoráveis ao evangelho, mas na verdade negam-no em sua raiz, mormente quando o assunto do qual se procura argumentar ou dirimir suas dúvidas seja a Regeneração. Suas palavras deflagram contra o evangelho pelos meios pragmático e racional de se conceber a fé, ambos largamente entranhados na religiosidade de muitos que se dizem regenerados. 

Em João 3 somos presenteados por Deus com o magistral diálogo entre Jesus Cristo e Nicodemos. Este fariseu de nobre estirpe, à surdina da noite, distante dos olhares condenatórios, propõe em seu coração obter algumas informações com Jesus em resposta (ao que implicitamente percebemos no texto), a um dilema existencial que ora lhe acometia. Sabemos que posteriormente Nicodemos parece ter compreendido o assunto que anteriormente em João 3 ele indagara, pois o vemos em João 19 ladeado de José de Arimatéia cuidando do corpo de Jesus quando morto, e provendo ao seu cuidado o sepulcro e as necessárias especiarias aromáticas. Mas a despeito disso, no capítulo em voga, Nicodemos não havia compreendido algumas questões que julgamos ser fundantes a crença em Deus bem como em sua doutrina a nós provida por sua palavra. 

Nicodemos faz uma pergunta e um questionamento, (trataremos neste artigo apenas da pergunta) e para ambas obtém de Jesus a mesma resposta. Na primeira delas, ou ainda antes dela, ele busca tecer alguns elogios a Jesus. Não há nada de errado em suas palavras, porém parece-nos haver uma pitada de pragmatismo, ou ainda, um antropocentrismo enrustido em sua afirmação, em face da resposta que de pronto recebeu de Jesus:

“Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João 3.2,3)

Em um primeiro momento, Nicodemos se apresenta a Jesus como alguém que nele “crê” em decorrência dos milagres por Jesus efetuados. Os milagres eram a rampa que guinava sua fé, supunha. Mas se pensou ele dessa forma, estava errado. O seu profícuo saber, pelo fato de ser um dos membros do Sinédrio, não lhe fora suficiente para que pudesse compreender a contento os passos que nos levam a um novo nascimento, e de fato, nenhum saber antecederá a ação do Espírito Santo em nós. Ele disse que Jesus de fato vinha de Deus, mas concebera equivocadamente que o fato dele obter tal conclusão, poderia quem sabe estreitar sua relação com Jesus, ou ainda como disse Donald Guthrie “A necessidade do novo nascimento desafiava o direito de Nicodemos de fazer uma avaliação de Jesus em uma esfera puramente humana” [1] .Jesus poderia ter relevado sua afirmação, classificando-a como uma ação primaria e oportunamente benéfica, por meio da qual, uma genuína conversão pudesse ser iniciada. Contudo, regeneração não é uma ação que é precedida de uma ação benemérita ou, simplesmente benéfica por parte daquele que é seu alvo, além do mais como corretamente dito por Matthew Henry “Não era suficiente que ele admirasse os milagres de Cristo, e reconhecesse sua missão, ele devia nascer de novo”[2]. Ainda Henry prossegue dizendo: “Nós não devemos pensar em remendar a antiga construção, mas em começar pela fundação” [3]. 

 Se uma boa ação não for resultante da regeneração, de modo a antecedê-la, de nada adiantará se valer daquilo que da própria regeneração não sobrevier. A regeneração não precisa de força propulsora para agir; Não depende de oportunidades pelas quais possa se valer o espírito Santo para que leve a cabo a conversão. O único campo propício a regeneração é uma vida morta em delitos e pecados, um irreconciliável e empedernido coração que não pode por si mesmo, buscar sua própria salvação. Precisa ser uma ovelha que se desgarra para que a iniquidade desta, em ter se distanciado de seu Senhor, caia sobre este, imputando-lhe a sua justiça (Is 53.6). Se Cristo julgou que sua afirmação merecesse a resposta que ele o deu, não podemos simplesmente desconsiderá-la enobrecendo a resposta de Jesus, ou dando valor a esta em detrimento da afirmação de Nicodemos. Se a resposta tem grande valor, então ela foi sim, majestosamente concebida por Jesus para contrastar com aquilo que carregava as palavras de Nicodemos, ou que, ela posteriormente, pudesse gerar nos corações que a lessem. Cristo diz que aquele que não nascer de novo, não poderá entrar no reino do céu. A afirmação de Nicodemos [Sei que és mestre vindo da parte de Deus] nada havia somado a sua regeneração. Ela não aparece no texto como uma evidência de seu achego ainda informe e paulatino a fé em Cristo. Não há nenhuma continuidade do pensamento de Nicodemos manifesto em sua afirmação, com pensamento de Jesus, senão uma descontinuidade entre eles, comprovando-nos de que sua afirmação não perpassava pelas categorias da regeneração, ou sequer era um indício desta em trabalho no seu interior. Cremos que Cristo o trouxe para si, naquela noite, mas, não para salvar alguém que já estava se salvando, senão, para fazê-lo compreender no que consiste o nascer de novo. Cristo lhe dissera em resposta a sua afirmação que ele precisava nascer de novo. Sei que a princípio suas palavras soam-nos como um forte indício à fé em cristo. Contudo, diante da declaração de Jesus que lhe era necessário nascer de novo, não vejo sob qual lógica, cristo dir-lhe-ia tamanha necessidade de nascer de novo, se a mesma já estivesse operando em seu coração. É possível ao ímpio dizer coisas boas, como lhe é igualmente possível este dar coisas boas a seus filhos (Lc 11.13)

Não é e nunca foi tempo de correspondermos a bajulação dos que se dizem simpatizar com fé que professamos, ou no mínimo, daqueles que se chegam em nosso reduto, e tão logo, são membrados a “fé”, pelo fato de se auto-prontificarem para serem cristãos. Mesmo que Nicodemos não estivesse revestido de tal propósito, ele não estava no caminho certo.  Necessário vos é nascer de novo é a máxima pela qual nós devemos nos apresentar ao mundo; é a semente a ser lançada diante do solo infértil. Eis uma máxima vitalmente necessária em nossa prédica. Não devemos reduzir a mensagem do evangelho, ou diluí-la com componentes que os nossos interlocutores desejem nela encontrar. Diante dos que procuram a igreja em busca de refugio, devemos pregar as verdades centrais da fé, as doutrinas da graça, pelas quais Deus fala aos pecadores. Pregar o evangelho não se constitui no quanto devemos ser diplomatas com os que nos ouvem abrandando seus corações com as bençãos efêmeras que temporizam o sorriso nos seus rostos, enquanto caminham para o inferno, ou o quanto devemos tornar o evangelho uma resposta a altura dos questionamentos feitos pelos ímpios.  O Evangelho não é equilatado pelos que dele precisam. Não deve ser entregue sob medida a um suposto crente quando se porta como cliente quando faz do cristianismo o berço que acalenta a sua dor, ou a chave que “abre a porta” da tão utopicamente desejada vida de ouro, ou ainda, a redoma de aço que lhe protege dos infortúnios que a todo homem debaixo do sol é acometido. O Evangelho não estará lhe trazendo resultados quando ainda sem a ação primeira do Espírito ele julgar tal mensagem palatável. Não importa se dizem ser simpatizante a figura de Cristo; antes devemos anunciar-lhes que lhes é necessário nascer de novo. Que não importa o que dizem, ou o que pensam já compreender, que se enclausurem em infindáveis campanhas, que se simpatizem a fé sem dela quererem professar, a ordem do Senhor Jesus aos que dele receberam a magnífica alçada de pregoeiros da verdade, não é outra palavra senão, lhe é necessário nascer de novo. 

O homem é morto em seus delitos e pecados, disposto a inexoravelmente restringir a sua vontade ao que brota de sua natureza pecaminosa. Sendo o homem corrupto, deste não fluirá nada senão a corrupção (2 Pe 2.19 – Gl 6.8). A menos que Deus vivifique o homem que nas trevas se encontra, tal homem continuará a satisfazer as concupiscências de sua própria carnalidade, infelicitando-o a condenação eterna. Diante dessa realidade, nada adiantará ao homem perdido, senão a mensagem na qual Deus se compromete em restaurar a sua natureza, habilitando-o a dizer o “sim” que sua natureza resiste em concedê-lo. Para Lázaro Jesus disse “vem para fora”. Não haveria outra ordem que Lázaro precisasse naquele momento, assim como não há outra mensagem da qual os pecadores necessitam senão a de que denuncia sua impiedade, convidando-os a nascerem de novo, por meio do arrependimento que em tempo oportuno, através de nossa mensagem, por Deus ser-lhes-ão concedido:

“Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade,  e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos.” (2 Tm 2.25,26)

Graça e Paz
Mizael Reis

[1] comentário Bíblico Vida Nova, p 1550.
[2] comentário Bíblico, Novo Testamento, p 774
[3] Ibid, p 774


29 de out. de 2010

Eu e Vanessa vamos nos casar amanhã, para Glória de Deus!!



Enfim, depois de decorridos alguns anos, é chegado o dia mais esperado de nossas vidas (Eu e Vanessa): Nosso Casamento. Não faltaram lutas e dificuldades nessa longa caminhada, mas elas só não faltaram porque foi por meio delas que Deus forjou-nos o caráter preparando-nos para o que se sucederia, que é a grande responsabilidade, divina, de representá-lo na terra por meio de sua primeira e mais importante instituição, a Família. Louvo ao meu Deus, Dono de Tudo, Supremo e Eterno Senhor pela benção que nesse dia nos presenteia. A Ti Deus meu, seja dada Toda Honra.

30/10/2010

SOLI DEO GLÓRIA

Graça e Paz
Mizael Reis

16 de out. de 2010

Suponhamos que Deus não fosse Soberano

SUPONHAMOS (conjecturando) que Deus não fosse soberano, que há nada decretasse, e que o homem tivesse o tal do livre arbítrio.

Essa estória aconteceria mais ou menos assim:

Estando deus nos céus desfrutando de sua eternidade incomensurável, e, embora fosse Trino, sentiu no âmago de seu ser, em decorrência de uma irreprimida solidão a lhe consumir, a necessidade de se relacionar com alguém fora dele próprio. Assim, cogitou mentalmente (porque nada via a sua frente, que dependesse unicamente dele), na idéia e aventurou-se numa investida audaciosa de torná-la realidade. Assim começa a saga de uma série de episódios frustrados de deus com suas criaturas.

Sozinho, reclusado e contristado, isso tudo devido à solidão que desde toda a eternidade lhe acometera, deus propõe em seu coração criar seres os quais ele os chamaria de anjos, a fim de, enfim se relacionar de uma forma mais imprevisível, pois tal como ele era, assim seriam os anjos, livres de quaisquer ações externas, e livres dele próprio (deus), podendo assim lhe presentear com o inusitabilidade do inesperado.

Dentre os anjos que lhe devotavam piedade, houve alguns que ousaram deixar sua própria habitação. A Condescendência de deus é surrupiada por uma frustração inusitada. Não acreditava no infortúnio em que o destino e suas criaturas lhe reservavam. As suas criaturas insurgem contra os seus domínios, e amotinam-se contra sua “Soberania”, levando-o, forçosamente, a tomar uma decisão a qual não previra, precipitando seus anjos traidores de sua moradia, destituindo-os de sua beleza, transformando-os em famigerados demônios. Por conta deste veredicto, o qual deus jamais antevia, isso devido à liberdade dos anjos, o Eterno enluta-se demasiadamente, e, no recôndito de sua moradia, introspecta-se e se pergunta, em qual momento teria errado, e de contínuo, pensa em qual seria a melhor saída para retomar o caminho e continuá-lo de onde o mal havia o impedido de levar a termo o seu plano cogitado.


A tristeza agora estonteia-lhe o coração, e meio que sem surtida, é forçado a tentar, por mais  uma vez, seguir caminhos sobre os quais não tem plena certeza quanto aos seus desfechos, pois, diante  da possibilidade de um novo relacionamento, análogo a natureza do primeiro, que enclausurava-o como refém de sua própria história, Ele incorria na triste possibilidade de ver-se num suposto fracasso outra vez. Mas não havia outro jeito, era um risco que estava disposto a correr, e de fato Ele correu. Assim, como possível solução ao problema instaurado nos seus desígnios primeiros, impedindo-o de seguir pelos caminhos que desenhara, deus cria o homem, e junto ao fôlego de vida que lhe concede, dá-lhe a plena e independente liberdade de “ser”. Este que está à sua frente é o sinete de sua perfeição, a mais elevada de suas criaturas, esta que, no desenrolar dos próximos dias, reservar-lhe-ia uma relação de amor e ódio, alegrias e tristezas, fidelidade e traições o que desembocaria numa frenética e custosa tentativa de resolver problemas não concebidos previamente, marcados pela improbabilidade de sucesso sempre a circundar esse relacionamento, fruto de uma relação de dois agentes plenamente livres e imprevisíveis.

Assim, como nem tudo na vida é perfeito, com deus também não seria diferente. Em decorrência da liberdade recíproca de relação entre deus e o homem, tudo que aquele havia concebido para a sua relação com sua criatura parece vir por água a baixo, quando, pela primeira vez de muitas outras, o homem decide não obedecer aos seus estatutos, frustrando-lhe bem diante dos seus olhos os planos por meio dos quais acreditava deus, que poderia mudar a história do seu mundo caído e destruído a contragosto de sua vontade. Mais um acidente esbofeteia-lhe a face, e mais uma de suas criaturas rebela-se contra o seu “perfeito” plano arquitetado. O homem era perfeito, o jardim que deus lhe dera para sua vida e habitação parecia perfeito. O que, no entanto, não parecia ser tão perfeito eram os planos desse deus, que a essa altura parecem a nossos olhos, mais sugestões de vitória, feitas por alguém que de fato não detêm o curso da história, diante de uma história que se rege pela plena liberdade do homem, fruto de uma ambiente convenientemente indeterminista, do que planos concretos.

deus é forçado a relevar a sua confiança dispensada ao homem que ele criara, por conta da sublevação de seu plano, agora frustrado. Assim, se pôs a pensar, e a arquitetar, por mais uma vez, no plano que se constituiria no melhor caminho a seguir, uma melhor alternativa, frente ao adverso, e isso seria levado a cabo, por meio da desconstrução do seu primeiro plano, que seria uma espécie de plano A, preterido por um novo plano, de natureza corretiva, que seria um espécie de plano B, no empenho de tentar recompor tal relação, destruída pelo homem que com seu ato livre de escolha, havia lhe confinado a um incontido sentimento de ira baralhada com tristeza; isso porque tudo dera errado, novamente.

deus agora pune o homem, imputa-lhe as consequencias de seu pecado, lança-o para fora de sua presença, e agora por sucessivas vezes no curso de toda história, se valerá de homem livres e agora inerentemente pecadores, que, volitivamente se prontificarão a mudar essa história marcada por tristezas que também são frutos de escolhas de homens livres. É sempre de crucial importância, visando o êxito dos primeiros planos, que o homem se revista da parte que lhe cabe nesses planos, do contrário, ver-ser-á deus, em um ciclo ininterrupto a recriar um ambiente propício, sempre com base nessa resposta livre do homem, que sempre é capaz de mudar, quando bate o pé teimoso, e resistir em colaborar com os planos do seu criador. Alguns delinearão coincidentemente a vontade de deus, proporcionando assim, um quadro perfeito no afã de que deus oportunamente tente levar a conclusão de seus intentos, ainda abstratos. Dentre eles, destaque para Abrão, Isaque, Jacó, José, Moisés (esse foi incrível, pois aquilo que parecia mais trivial, ou seja, estar dentro de um cesto dentro do rio à deriva, coincidentemente, contribuiu para que deus usasse Moisés, poxa que sortudo!), Josué, Elias, Eliseu, etc.

Sintetizando a estória, Davi também foi um desses pelos quais deus se vira presenteado pela história. Ele achou Davi, literalmente. Agradeceu não a si próprio, mas ao próprio Davi, pelo fato de que, na sua liberdade, tenha desejado agradar ao deus que não lhe chamou, mas que em decorrência do “sim” de Davi, com lágrimas nos olhos, disse um tremendo “SIM” para este Davi. Não é pra menos. Não foram e nem são muitas dessas oportunidades que se concretizam ante aos olhos de deus, convidando-o para uma batalha com grandes chances de vitória. Como conseqüência da pureza estritamente originada de Davi para com deus, o eterno se vê reescrevendo uma história onde Davi tornar-se-ia, a princípio, no seu principal protagonista. Decide que da descendência deste viria um que pudesse “resgatar” a humanidade de seus muitos pecados. Para tanto, deus criaria meios no transcurso da história, atinando seu senso de oportunidade, e por meio desses meios, procuraria se valer de homens bons aqui e ali, a fim de favorecer oportunamente seus anseios futuros, ainda incertos. Lembre-se, o homem precisa “fazer por onde”. Por mais que homens bons apareçam em meio ao caminho, o homem de fato precisa Ser redimido, ou ao menos, uma luz no fim do túnel precisa ser-lhe mostrada. Esse plano é antigo, e chegou a hora de concretizá-lo. Agora o plano é vir sobre a terra e apresentar aos homens uma possibilidade de salvação.

Resumindo a história, e omitindo o tempo dos reis que não contribuíram com quase nada em seus planos, levando-os a quase utopia, deus encontra uma mulher, que desde a tenra idade fora fiel, pelo seu próprio logro, esforço e mérito. Uma mulher judia, de nobre estirpe, limpa, pura e virgem. deus não acredita! Em meio a um mundo onde a paz e pureza é quimera, tal como uma bela flor a surgir em meio à aridez do deserto, assim viu deus a incólume santidade dessa mulher imergindo-se no mundo, irrepreensivelmente à parte de toda impureza e pecado. Uma mulher que, por fim, co-participaria nos desejos de deus, tirando-o do campo da impossibilidade, e materializando-o no mundo dos viventes. Por meio dela, deus viria habitar entre os homens, isso, se Maria estivesse disposta a participar.

Se valendo da produção da história particularmente humana, com a qual deus não tem nenhuma responsabilidade e controle, o Eterno se alegra por poder levar à frente um desejo antigo (não tão antigo), o de tentar restaurar a humanidade por meio de sua vinda à terra.

É certo que desde o Gênesis tal vinda fora predita, como a consecução dos planos de deus, por meio dos quais derrotaria o seu inimigo e o pecado. Porém, mesmo tendo em vista a conclusão desse “decreto”, a sua efetiva realização sempre esteve condicionada a voluntariedade humana, a corresponder a contento, munindo-se da parte que lhe foi, e sempre será pertinente. Mas enfim, deus se faz carne, e por meio das mãos dos homens maus, morre e ressuscita, facultando aos homens a salvação por meio da aceitação de seu sacrifício, aceitação essa plena e decisioriamente circunscrita a alçada humana. Assim, diante dessa forma de ver e conceber deus, o mundo a seu redor, seu desejo de salvar o homem, e a possibilidade de se consumar essa salvação, conclui-se que a salvação é uma daquelas questões onde se menos pode acreditar que de fato acontecerá. deus deseja que todos os homens sejam salvos, mas seu desejo não corresponde ao seu intento. Ele quer aquilo que não é seu. Sob essa compreensão, deus não só não verá todos os que Ele deseja se converterem, bem como pode ter a inóspita experiência de que nenhum dos homens se converterão, pois mesmo que alguns o sirvam hoje, podem olvidá-lo um dia e abandoná-lo, posto que são total e plenamente livres. Mesmo que nos pareça remota essa possibilidade de pleno fracasso ao alvo pretendido, vendo sob esse prisma, isso é inteiramente possível de acontecer, ao menos em tese. Portanto, nada está decretado, os homens podem simplesmente pela força de sua decisão, desejarem não ter a cristo, incorrendo à deus de não ver no futuro o fruto de seu trabalho e nele ficar satisfeito. 

Conclusão: O mundo foi feito por deus, destruído pelo diabo, que por sua vez contaminou o homem, tornando-o num aliado, que luta vorazmente contra os planos de deus. O homem desde o princípio resiste em aliar-se aos desígnios de Deus, forçando-o a sempre remeter-se a um plano B ou ainda um plano C, para possibilitar a probabilidade de vencer na ocasião. A despeito dessa rebelião do homem, Deus em sua misericórdia, não salvou ninguém, antes morre a fim de simplesmente facultar a salvação a todos os que podem rejeitá-la. A salvação não é substitutiva e sim facultativa; ele não levou pecados, e sim pode levar pecados, caso o pecador queira que ele os leve; A salvação é universalmente oferecida, e não efetivamente realizada. Assim, deus e o diabo são forças proporcional ou igualmente fortes, pondo-se a lutar no ringue do mundo, onde o grande controlador da batalha, que detém nas mãos a capacidade nata de coordenar a história, manipulando-a por meio da ajuda de um dos dois lutadores é o homem, bastando-lhe apenas, apoiar aquele que no momento quer que seja o vencedor, e isso temporariamente.

Falando sério, seria assim, se Deus não fosse Soberano e se o homem, ao lado de Deus, fosse um outro deus. Se o seu Deus tem no mínimo, uma característica desse embusteiro, descrito acima, utopicamente nesse texto, desculpe-me, esse deus não é o Eterno Deus das Escrituras. O Deus da Igreja não está vendido nessa história, não está chorando copiosamente nos céus, devido ao fracasso de seus primeiros decretos abortados ou pelo "leite derramado". Ele controla todas as coisas, para que essas coisas contribuam, soberanamente, para os seus planos irredutíveis, insubstituíveis, e eternamente decretados.

“Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás?” (Is 14.27)

“Só tu és SENHOR; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu os guardas com vida a todos; e o exército dos céus te adora.”(Nm 9.6)

Soli Deo Gloria

Graça e Paz
Mizael Reis

2 de out. de 2010

Soberania de Deus e algumas visões a seu respeito

Existe um hino que nós cristãos, há tempos cantamos: 
“Nosso Deus é soberano. Ele reina, antes da fundação do mundo.”
Como já abordei em um artigo anterior (Leia-o aqui), dizer por dizer que Deus é Soberano, sem relevar as implicações que carregam tal afirmação é fácil. Submeter tudo que acontece no mundo a esta soberania, é que se constituirá numa difícil tarefa as mentes incrédulas e oscilantes.
Pois bem, pensando nisso, senti o desejo de escrever, basicamente, sobre três cosmovisões [1] que dizem crer nessa Soberania (uma dessas três a redefiniu completamente ,a seu bel prazer), de Deus. São elas: O Calvinismo, o Arminianismo e o Teísmo Aberto. Como conclusão ao texto, transcrevi alguns textos bíblicos que julgo serem decisivos para que tal soberania seja de uma vez por todas bem interpretada e compreendida, submetendo tais concepções à supremacia da escritura, o que nos levará a rejeição de duas dessas cosmovisões. Alinhar tais versículos com uma, e uma apenas, dessas três cosmovisões, será tarefa de cada leitor.
Os que repudiam os termos, em razão de incriminá-los como rótulos, talvez não gostem muito desse texto, pelo fato deste contê-los. Mas sempre vale lembrar que neutralidade não existe. Por exemplo, se você leitor, crê no livre arbítrio, então de alguma forma, mesmo que não queira, você reflete em sua crença o pelagianismo, o semi-pelagianismo e o arminianismo de séculos passados. Se alguém diz ser Pentecostal, ou Assembleiano, ou Batista,  etc. já estará se valendo de termos, incorrendo na própria hipocrisia de se impor em uma utópica neutralidade.

O Teísmo aberto.


O teísmo aberto, pensamento esse com raízes ateístas e de origem adventista [2] proclama a liberdade humana, em detrimento da Liberdade de Deus. Essa concepção, divorciada do Deus das Escrituras, enobrece a escolha humana, e destitui a Deus de seu próprio poder, pois na ânsia de deificar o homem, venda os olhos de Deus para que  este não veja e saiba do futuro que se avizinha e se descortina diante dos seus olhos.
Na visão do teísmo aberto, Deus é Soberano, mas não da forma como fora tradicionalmente concebido. Ele é soberano porque sabe o que está acontecendo em seu mundo, embora não saiba o que possa acontecer em tal mundo, isso porque a história do mundo é escrita sinergícamente pela aliança entre Deus e homem, sem a qual o mundo perde-se como um barco à deriva. Ambos não sabem nada acerca do futuro, pelo menos não exaustivamente (O que para mim, é a mesma coisa, dita de forma camuflada, a fim de criar os seus adeptos sem assombrá-los). Diante disso, e motivados pelo desejo de um final feliz, com uma história feliz, Deus (Creator) convida ao homem, fabricante de sua própria história (homo-faber) que faça parte, com o peso de decisão majoritária, da construção dessa história, ainda informe. Porém, lhe é tão facultada essa decisão, ou seja, depende tanto do homem tal escolha de contribuir ou não em tal construção que ele bem pode “soberanamente rejeitá-la”, o que se leva a concluir, no campo dessa concepção, que se o mundo ainda vive em desgraça, é porque o homem ainda não se dispôs em se revestir de sua responsabilidade para mudá-lo. Assim, em decorrência dessa escolha soberana do homem de não ajudar na parte que lhe compete, a tão esperada construção desejada por Deus é sublevada pelo não-engajamento do homem na parte do plano que lhe diz respeito. Como prova dessa desobediência, o mundo lamentavelmente tornou-se naquilo que ele é hoje, mas não é o que é porque Deus quis que assim fosse, pois de fato ele não esperava tal desfecho, posto que ele não sabia, nem da escolha futura do homem de não desejar se tornar co-autor de uma bela história, como não sabia do que lhe esperava no desenrolar da história em função da indiferença e do homem em produzi-la.
Dessa forma tudo o que acontece no mundo é culpa do homem, no sentido de que este, não quisera se munir de sua responsabilidade no plano, cuja concretização, sempre utópica (porque o mundo nunca melhora nos moldes que o teísmo aberto espera que melhore, posto que o homem é mau e pecador), dependia plenamente de sua cumplicidade a favor da aliança. No teísmo aberto, o homem cria o inédito tanto para ele quanto para Deus. Porém, esse inédito só se materializa na medida em que homem se prontifica em iniciá-lo. Assim, longe de crer num determinismo, onde Deus determina todos os acontecimentos, os proponentes do teísmo aberto, apregoam um declarado indeterminismo, onde nada está decidido, sendo o futuro tanto para Deus quanto para o homem, um amanhã ainda não acontecido.
Dessa forma, Deus não só é fraco, como não rege a história. Ai, nessa forma de ver as coisas, nós seres humanos, estamos à mercê de qualquer desgraça mundial, posto que nem o Deus o qual servirmos, poderia fazer alguma coisa por nós, sem nós, o que leva-nos a concluir que todas as promessas de Deus, hipoteticamente falando, deveriam merecer todo nosso descrédito e desconfiança, pois se ele não sabe nada sobre o futuro, então também não saberá sob quais circunstâncias nos brindará o futuro no momento em que o deus do teísmo aberto, nos prometeu o cumprimento de determinadas promessas.
Assim, no reduto misterioso de sua eternidade, sob a ansiedade que o consome, esse deus, está à espera, complacentemente, de algum ser humano que queira protagonizar a bela história ainda não acontecida, o que ele não sabe existir, mas que acredita que possa ainda indeterminadamente, mas não sem esperança, vir a acontecer. Esse Deus não é do Deus das Escrituras.


O Arminianismo



Os Arminianos e os de vertentes correlatas, afirmam não haver contradição alguma em dizer que Deus é Soberano, ao mesmo tempo e conceito de que o homem tem livre arbítrio.
Eles afirmam que Deus é Soberano, que sabe de tudo, ou ainda, que sempre soube de tudo; que ele não sofre atualização diacrônica em decorrência dos fatos da saga de seus relacionamentos com o homem, que não regride, nem é surpreendido. Porém, ao lado dessas afirmações e pondo-as sob prova de veracidade, acreditam também que cabe ao homem a maior participação em um estado decisório da questão, no que diz respeito a sua salvação, pelo engajamento do qual ele é plenamente responsável, sem o qual nada será levado a efeito.
Acreditam que o homem é neutramente livre, e, na medida em que afirmam que Deus sabe de tudo, e que tudo está escrito, determinado por sua regência soberana, também afirmam que nada, que diga respeito à decisão que compete ao homem está de fato decidido.
Deus sabe de tudo, mas o homem ainda não escreveu sua historia. Ou seja, o arminianismo, no que concerne à Soberania de Deus, resvala, mesmo que seja em parte, na teologia reformada, mas no que se aventura em afirmar sobre livre arbítrio, comunga, plenamente, com o teísmo aberto. Nesse sentido, o teísmo aberto é menos contraditório do que o arminianismo, pois enquanto àquele se rende, embora equivocadamente, a não aceitar a realidade das duas premissas ora abordadas, o arminianismo segue contradizendo-se julgando ser possível conceber, biblicamente, a simultaneidade das duas premissas. O Teísmo aberto erra por dizer que Deus não é soberano e que o homem é plena e totalmente livre. O arminianismo erra por dizer que Deus e o homem são soberanos.
Para o arminiano, tanto Deus é soberano e decide e determina a história, como também é o homem que, pode por si só, com base em escolhas fundamentadas em sua volição neutra, escrever sua própria história, para o “louvor de sua glória antropocêntrica”.
O arminiano diz que Deus sabe de tudo e determina tudo para os seus devidos fins, exceto a salvação. Assim afirmam, sem preocupação alguma de serem acusados de contradição, que Deus sabe de tudo, inclusive sobre aqueles que serão salvos, muito embora seja do homem a escolha, que antes de sua decisão, tem a sua frente uma história limpa, branca e ainda não escrita, e muito embora Deus já tenha escrito seu desfecho, pois sabe de tudo. Vai entender.
Os proponentes do livre arbítrio ainda não analisaram a fundo, as consequencias decisórias de afirmar que Deus é Soberano, bem como também não refletem no clássico erro lógico, teológico e bíblico que subjaz na afirmação a favor do livre arbítrio do homem, ao lado da crença em um Deus Soberano.

O Calvinismo


No calvinismo ou na teologia da reforma deparamo-nos com a crença em um Deus plenamente Soberano. Plenamente quer dizer que não há nada no mundo além ou aquém de seus decretos. Todas as coisas que acontecem no mundo não só contribuem para os seus planos, mas são decretados, em primeiríssima instancia a favor dos seus planos. Não é o caso em que Deus tenha um senso apurado de oportunidade para que se valha das circunstâncias que se descortinam diante dos seus olhos, dadas pela ação do homem livre, para levar a termo seu intento, até porque nada nesse mundo acontecerá sem seu aval de forma em que algum acontecimento possa surpreendê-lo. Mas sim, quer dizer, que todas as coisas que ora acontecem, só acontecem porque Deus quis que tais coisas acontecessem, levando-nos a crer que o que acontece no mundo, não fora permitido por Deus como plano corretivo pra tentar consertar o que ele ou o homem fizeram de errado, nem se trata de uma ação simplesmente punitiva que ele permitiu sobrevir sobre o homem, quando este, desobedecendo-lhe, fez o que ele não queria que se fizesse (Sl 135.5). Enfim, passado, presente e futuro são eternamente redundados por Deus em um Soberano “agora”.
Se Deus é Soberano e controla todas as coisas, então não será exagero da parte do calvinista, valer-se de todos os versículos que ratifique tal doutrina e esgotar toda a sua linguagem e pena argumentativa para reafirmar que Deus é Soberano e reina sobre todos os acontecimentos. Se todos os acontecimentos são submetidos à regência da batuta divina, qual seria a base pela qual se eximiria a salvação e o destino da jurisdição dessa soberania?
Se Deus permite, ele assim o fez por razões voluntariamente soberanas e não forçosamente permitidas a contragosto.
Como um exemplo, o Calvinista diz: Se Deus estava na Governança de José, por meio da qual, proveu alimento para o mundo em tempos de fome, então isso significa dizer que os caminhos pelos quais José trilhou, que o fizeram chegar sob essas circunstâncias, foram todos providos por Deus. Toda dor de José, como a traição, A ira e inveja dos seus irmãos, o desejo erótico da mulher de potifá sobre José, a escravidão, o falso testemunho contra sua integridade, a prisão, todas as coisas contribuíram para o desfecho que Deus lhe havia sempre determinado. Se Deus opera segundo o conselho de sua vontade, e se sua vontade se revela tanto nos meios como nos fins, então tudo que fora acometido a José, estava sob plena ação, autorização e controle de Deus. Isso vale para quaisquer que forem os acontecimentos lançados sobre a mesa. Se não há nada acontecendo à margem de seu conhecimento, e se, tendo poder para intervir não intervém, é porque ele quer que tal coisa aconteça para levar à cabo seu Soberano e misterioso propósito. Compreender tais planos, não se constitui num quesito que ele exija do homem para que depois de compreendidos, possa então agir. Ele simplesmente age, e não deve satisfações a ninguém do porque de suas ações (Is 45.7 – Rm 11.35).
Se Deus é imutável e eterno, então tudo que ele deseja fazer, ele sempre desejou fazer, desde toda eternidade, posto que uma ação, manifestação ou intervenção de Deus, não é causada por uma ação que a anteceda ou que a torne necessária, de moda a forçá-lo a recriar a circunstância por meio de novas ações, moldando-a ao comportamento do homem, insurgido contra um plano primeiro ou para corrigir aquilo que deu errado. Deus é o fim de todas as coisas, o que nos levar a afirmar que nada força-o a fazer o que ele fez e faz, senão ele próprio.
Para o Calvinista, a história do mundo não está sendo escrita, na medida em que homens se voluntariam para co-participarem nos desígnios de Deus, embora seja a história escrita com participação dos feitos humanos (mas não de forma ativa ou neutra, senão sob supervisão divina). Por exemplo, o fato de Deus perguntar “A quem enviarei e quem a de ir por nós?”(Is 6.8) não significa que ele não enviaria alguém, e ansiava que alguém se manifestasse a tempo, a fim de que não visse ele seus planos sendo mais uma vez frustrados, pela inexistência de engajamento humano, mas sim que ele usaria alguém, tendo como resposta, a prontidão (Deus lhe capacitara a isso) de Isaias.
Deus é Soberano e o homem é responsável. Contudo, aqui, a responsabilidade do homem não é definida pelo quanto este homem é livre, mas sim pela vontade de Deus em imputá-lo responsalidade, em razão de seus muitos pecados. Nesse sentido, não há contradições entre um e outro, posto que a responsabilidade do homem não se nivela com a Soberania divina, antes, àquela submete-se a esta (Rm 3.4)

Conclusão


Enfim, O teísmo aberto crê na liberdade humana em detrimento da  plena soberania divina. O calvinismo crer na Soberania divina, em detrimento da liberdade neutra do homem, embora creia em sua responsabilidade em tudo que faz. Já o Arminianismo, diz crer nas duas coisas.
Querido Leitor, analise os textos abaixo, e rejeite, para glória de Deus, o teísmo aberto e o arminianismo, que doravante, seguem minando contra o Ser de Deus e seus Atributos imutáveis, em detrimento de forçar uma liberdade humana, liberdade essa que o homem nunca teve isso porque Deus sempre foi Soberano.
Suposta Liberdade humana refutada:

“A sorte se lança no regaço, mas do SENHOR procede toda a determinação.” (Pv 16.33)

“O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque esta revolta vinha do SENHOR, para confirmar a palavra que o SENHOR tinha falado pelo ministério de Aías, o silonita, a Jeroboão, filho de Nebate.” (1 Rs 12.15)

“Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do SENHOR; pois buscava ocasião contra os filisteus; porquanto naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.” (Jz 14.4)

“E aumentou o seu povo em grande maneira, e o fez mais poderoso do que os seus inimigos.Virou o coração deles para que odiassem o seu povo, para que tratassem astutamente aos seus servos”. (Sl 105.24,25)

E viram-no de longe e, antes que chegasse a eles, conspiraram contra ele para o matarem.” (Gn 37.18)

Pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento.” (Gn 45.7)

“Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos; Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo. Mas agora vos gloriais em vossas presunções; toda a glória tal como esta é maligna.” (Tg 4.13-16)

“Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta.” (Jr 1.5)

“Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça,” (Gl 1.15)

“Faz com que a mulher estéril habite em casa, e seja alegre mãe de filhos. Louvai ao SENHOR.” (Sl 113.9)

“Com setenta almas teus pais desceram ao Egito; e agora o SENHOR teu Deus te pôs como as estrelas dos céus em multidão.” (Dt 10.22)

“Esperá-los-íeis até que viessem a ser grandes? Deter-vos-íeis por eles, sem tomardes marido? Não, filhas minhas, que mais amargo me é a mim do que a vós mesmas; porquanto a mão do SENHOR se descarregou contra mim.” (Rt 1.13 – Noemi responsabiliza à Deus pelos seus infortúnios, causados pelas mãos dos assassinos de seus filhos)

“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia.” ( Sl 139.16)
 
Soberania de Deus ratificada:

“O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração.” (Sl 33.11)

“Tudo o que o SENHOR quis, fez, nos céus e na terra, nos mares e em todos os abismos.” (Sl 135.6)

“Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.” (Jó 42.2)

“O SENHOR fez todas as coisas para atender aos seus próprios desígnios, até o ímpio para o dia do mal.” (Pv 16.4)

“E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Dn 4.35)
“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Dn 4.7)


Graça e Paz
Mizael Reis

[1] Visão de mundo, ou as premissas pelas quais se compreende o mundo, em nosso caso, Deus, o homem, e o mundo.
[2] O teísmo aberto, fora batizado com esse nome em 1980 pelo adventista Richard Rice.

                                  

13 de set. de 2010

Perguntas aos que creêm na vontade do homem*

Spurgeon certa feita, legando-nos o seu último sermão, acertadamente disse:


“Parece extremamente absurdo pensarmos em pregar qualquer outra coisa que não seja a Palavra de Deus. No entanto, enfrentamos uma geração de homens que estão sempre a querer descobrir, para suas igrejas, um novo estimulante e um novo evangelho. A colcha de suas camas parece não ser suficientemente longa, e eles não hesitariam em pedir emprestado um ou dois metros de linho ou lã aos ecumênicos, aos agnósticos ou até mesmo aos ateístas” [1]

Eis o que tem acontecido em redutos eclesiais (onde se concentra maior ignorância, devido ao abandono da Escritura) e em redutos teologais (onde a interpretação sadia das escrituras, tem sido preterida por uma visão mais existencialista, aferida pela circunstacialidade do mundo, e nunca do texto sagrado). Muitos tem se valido de outras ciências misturadas com pitadas de filosofias, para explicar as doutrinas cristãs.

Como resultado, o que temos não é uma interpretação decorrida tão somente do texto e a ele submetido, mas sim insights travestidos de “sagrado”, banalizando a voz da Escritura, que por si só, dita a verdade inamovível de Deus e a esta o cristão deve submeter-se, inegociavelmente, mesmo que por meio da luz da escritura obscureçam-se intenções que a despeito de serem motivadas por um predisposto desejo de resolver o problema, onde tudo e todos são beneficiados. Pois os mesmos não funcionam. Isso porque quem dita as leis é Deus e não o homem passando-se como um deus a levianamente recorrer a sua impiedade, sua engenhosidade filosófica e sentimentalmente concebida, para resolver os problemas da vida.
Nesse emaranhado de pontos de vistas, cristãos são tentados a congratularem-se com afirmações que resolvam impasses de forma pragmática e rápida. Como exemplo, analise a resposta apresentada a seguir que comumente é evocada para tentar argumentar contra a eleição Incondicional de Deus: 

Deus é amor e não é injusto. 

Essa declaração fundamenta-se em quê? Como o interpelador da Eleição chegou a essa conclusão, foi pelo escrutínio da Escritura, mediante evidências sobejas, levando-se em consideração como, por exemplo, o fato de que Deus por vezes, feriu povos estranhos em razão de seu zelo, por sua nação eleita, Israel? Levou-se em conta a justiça de Deus que soberanamente pode, caso queira, como ele o quer, pois já prometeu que assim o fará, dar ao homem sua justa punição pois é digno de merecê-la? O que é amor, não do ponto de vista humano, mas sim divino?

Para que tais perguntas sejam respondidas, precisa-se recorrer ao arsenal da Igreja, a Santa palavra de Deus, pois é por meio dela, e unicamente nela, que Deus proveu respostas as mais contundentes perguntas do ser humano mesmo que não lhe agrade as respostas que serão obtidas, sobretudo, é nela que encontramos o parecer de Deus, a voz de Deus. Nela encontramos nosso Deus a bradar aos homens, exigindo-lhes os mandamentos, e julgando-os para a sua Glória. Na Bíblia certificamo-nos de como Deus concebeu o mundo e como Ele desejou governar esse mundo.

Em razão dessa questão crucial, propus por meio desse artigo, apresentar algumas perguntas, especificamente sobre o livre arbítrio neutro, ou como proposto com sucesso por  McGregor  Wright “a liberdade da indiferença”[2]. Há uma compreensão humanística a circundar os redutos acima apresentados, baseada em experiências, circunstâncias, acontecimentos, tragédias, intercorrência de contingências, mas nunca, na voz de Deus a ressoar em sua Palavra. À parte das bases acima, ilegítimas, e anelando a coerência bíblica como crivo de nossa afirmação, as perguntas abaixo insurgirão como uma muralha intransponível a compreensão adulterada da responsabilidade humana, cunhada pelos “ismos” do mundo, e da compreensão meramente humana para essas questões. As perguntas abaixo não se constituem numa defesa bem preparada para opor-se ao livre arbítrio, mas conoto-as como pedras a se interporem no caminho do arminiano, impedindo-o que leve a cabo sua compreensão, sem que antes atente-se com preocupação a elas, no afã de bem respondê-las a luz da argumentação bíblica. Não estou preocupado com liberais, teólogos relacionais ou do processo, pois estes já despiram a Escritura de sua proeminência, não recorrendo mais a ela para amparar suas crendices. Dirijo-me aos arminianos, pois estes dizem e de fato acredito, crer na inspiração plena e verbal da Escritura. Segue-se:

·         Se nós somos pecadores, propensos ao pecado, incapazes de pugnarmos para a nossa salvação, inaptos a produzirmos a luz por meio da fonte de nosso ser que é o nascedouro de toda sorte de pecados (Mt 15.19), e já que de tal fonte, que é inerentemente má, em decorrência da natureza herdada, não lhe seja possível produzir o bem, tal como não é possível a uma fonte de águas amargas, verter a mais límpida e doce água, de onde vem o desejo de abdicarmos de nossa pecaminosidade intrínseca para servir a Deus, de modo que, Deus não tenha participação primeira em tal desejo, a fim de que seja do homem o primeiro passo, tal como é propalado pelos que acreditam ser do homem a primeira ação na salvação, enumerando a de Deus como uma segunda ação correspondente? Pois para que seja provada a realidade de um suposto livre arbítrio, precisa-se provar, biblicamente, como se dá a insurreição do pecador a contrapor-se a sua natureza, distando-se e alienando-se dela, pela sua própria conta, praticando uma ação a qual não corresponde a sua própria natureza, o que por sua vez significa que seja possível brotar a pureza da impureza (Jó 14.4), sem que Deus tenha precedência em tal ação por meio da qual seria assim tal homem capacitado? Enfim, hipoteticamente falando, segundo essa forma de compreender a salvação, o homem precisa anteceder a Deus na ação regeneradora, do contrário não existe livre arbítrio, pois se Deus age primeiro, então se conclui que o homem é incapaz de por si só agir. E se for assim, não lhe é possível ser o que é, e ter a capacidade de transitar nos caminhos da bondade. Se Jesus diz que sem ele nada se pode fazer (Jo 15.5), como relacionar o suposto livre arbítrio com tal declaração? O que o homem, segundo os proponentes do livre arbítrio, pode fazer sem Jesus, ou, antes de Jesus?

·         Como é possível não ser salvo pelas obras, sendo do homem o primeiro passo rumo à concretização de sua salvação? Se não é pelas obras, como seria possível conciliar esse querer antecedente do homem com a declaração de Paulo quando diz que “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13)? Qual a diferença, onde e quando se dá o querer do homem aliado ao querer de Deus embora independente deste, sem que o versículo acima seja negado, ou seja, se Deus opera o querer, onde entra em tal processo o querer do homem neutra e autonomamente produzido pelo seu anseio unilateralmente engendrado à parte daquele que segundo diz a Escritura, advêm toda bondade e dom perfeito? (Tg 1.17)? Tudo isso, sem que a salvação não se dê pela via meritória das obras, redundando em uma compreensão coerente com a salvação que é pela fé?

·         Se a salvação é pela fé e não pelas obras, isso significa dizer que somos salvos apesar de nossas más obras. Sim, porque, se não somos salvos pelas obras, é porque tais obras são moralmente incapazes de favorecer-nos no processo que se conduz a nossa salvação. Pois bem, se não é pelas obras, então não há entre os homens já salvos, um que possa se gloriar por ter sido salvo, posto que se o foi, não o foi porque quis, e sim porque foi alcançado, e se essa é a verdade que se depreende das Escrituras, como posso responsabilizar o homem por um suposto primeiro passo, por meio do qual se inicia a salvação, sem que mine contra essa verdade bíblica, de que o homem é salvo por meio da fé? Se o que é nascido da carne é carne (Jo 3.3), logo entendemos que quaisquer obras dignas de arrependimento, não serão produzidas pela força da carne, já que da carne emerge-se tão somente a carnalidade; tão é sua finitude e ineficácia quanto ao que é bom que, para que produza o bem, lhe é necessário nascer do Espírito. Dessa forma, é possível a carne, produzir obras de competência do Espírito?

·         Se Jesus veio salvar o que estava perdido, e se esse perdido, como consta em Is 53.6, desgarrava-se para o inóspito mundo das trevas, distando-se do reduto da luz, como pode esse perdido se julgar capaz de, eventualmente, olhar para o Deus que se propôs a salvá-lo? Se esse homem, que é pecador, distanciava-se do aprisco do Pastor que desejou buscá-lo, como compreender a alegação de que se tal homem quiser abandonar o pecado, dando-se por conta de quão lhe é prejudicial afastar-se do sumo Pastor, recorrendo ao seu discernimento nato para compreender que a luz é melhor do que as trevas e olhar para Deus, ele conseguirá assim o fazer? Gostaria de saber como isso pode ser possível, sem que esse querer olhar para Deus sobrevenha de Deus, pois se dele vier, Deus o capacitou para assim o fazer, e se assim for, não há como provar livre arbítrio algum. Se Deus capacita, então é porque o alvo de sua capacitação é incapaz de se autocapacitar. Ainda, se “nossa capacidade vem de Deus(2 Co 3.5), razão pela qual se infere que não somos capazes de por nós mesmos, pensar em alguma coisa de natureza divina, em qual sentido ou natureza, a luz de prova bíblica, a condizer com esse texto, o homem é capaz de fazer alguma coisa?

·          Se Deus não imputou á nos a nossa injustiça, mas sim a justiça de Cristo (2 Co 5.18,20), por meio da qual somos aceitos por Deus, como conciliar tal declaração com a que se alega que cabe ao homem o cumprimento de sua parte nos passos de sua salvação, manifestando assim, justiça própria, posto que será dele? Como é possível dizer que o homem é salvo pelos méritos de Cristo na cruz, e ao mesmo tempo afirmar que está no homem a capacidade de fazer tudo o que Deus lhe exige a fim de que, após iniciado pelo homem a regeneração, por meio de sua justiça, Deus seja compelido a concluir aquilo que o homem iniciou?

·         Se o homem não entende as coisas do Espírito (2 Co 2.14), então como ele seria apto para lograr sua salvação, laborando-a por meio de esforços que lhe seriam porventura apropositados? Se não é possível ao que nasce de mulher ser justo (Jó 25.4), e sendo a justiça o fator preponderante para o perdão de Deus, como explicar o fato de o pecador ser perdoado? Se o que é necessário para o perdão, o homem está para aquém de alcançar, como ele alcançou? Porque quis? Como quis se não pode produzir o que deveria ter para então ser? Se Deus prova o seu amor para conosco morrendo por nós, sendo nós ainda pecadores, como pode Ele estar esperando que este homem diga o sim que Deus esteja esperando para agir?Se “A alma do ímpio deseja o mal” (Pv 21.10), como posso provar que, caso ele queira também poderá desejar o bem?

·         Se o que o olho não viu, ouvido não ouviu, e não subiu ao coração do homem Deus pelo Espírito no-las revelou (2 Co 2.9), como é possível insurgir-se contra esse texto, dando capacidade ao olho do homem para ver, dizer que seus ouvidos são inerentemente sensíveis ao ribombar da voz de Deus à chamá-lo, bastando-lhe assim querer, despertando a sua capacidade, ainda latente, e ousar afirmar que lhe seja possível, por meio de seu coração, desejar a Deus, sem a revelação do espírito a antecedê-lo?

·         Se a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus (Rm 10.17), e sendo a fé o instrumento por meio do qual se concretiza a redenção que é pela graça (Ef 2.9), como imputar ao homem participação crucial na salvação, assim como imputar a dois homens a responsabilidade pelo êxito no apertar de suas mãos, se nem a fé e nem a graça são produzidas pelo homem? Se não é real a ressurreição dos pecadores de sua morte efetivada apenas pela ação de Deus em ressuscitá-los, nada exigindo-os, face a inabilidade do morto de responder um sim por si, posto que está morto e sequer anseia viver, como seria possível ser real a ressurreição de lázaro, se ele em nada participou no milagre que culminou em sua ressurreição? Qual foi a sua participação no “vem para fora”? Da mesma forma, se nós éramos por natureza filhos da ira, mortos em delitos e pecados (Ef 2.2) e irreconciliáveis (2 Tm 3.3), em que sentido os mortos espirituais participaram efetivamente sobre a salvação, de modo a se auto-reviverem?

·         Se Deus não tivesse escancarado o coração de Lídia (At 16.14) a ouvir as palavras de Paulo a pregar, ela mais a frente, o faria mediante fé própria? Caso não se pregue com mansidão a palavra da verdade aos pecadores, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para crerem, a fim de que se desprendam das garras do diabo, onde estão presos (2 Tm 2.25), será possível que sem a palavra, tais pecadores conscientizar-se-ão de quão indignos eles o são para receberem o evangelho de Deus, e por essa razão, se adéquam moralmente e fertilizam o solo do seu coração, antes improdutivo à mensagem do Evangelho? Como?


Não proponho tais questionamentos como desafios inconsequentes. Não estou disposto a reduzir a palavra de Deus a uma guerrinha de guetos religiosos. Contudo, tal exposição é necessária. O motivo pelo qual insisto em dizer que o homem não pode por sua própria natureza buscar a Deus, não é para outro propósito senão para Exaltar a Deus, elevando- o em meu coração onde ele sempre, sempre estará, no céu, como Soberano, pronto a ressuscitar os perdidos, dando-lhes a vida, por meio da regeneração que só por ele o homem pode ter. Se o homem for grande, Deus não será sua dependência, e em momentos como esse, nem que Deus nos faça pastar como animais, ele nos fará compreender que a beleza incólume que envolve o nosso coração, originalmente pecaminoso, não é nossa, mas pertence A sua Majestosa e Soberana graça.

Graça e Paz
Mizael 



* "[...] Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." (Jo 1.13)
[1] Charles Haddon Spurgeon. A Maior luta do mundo. São José dos Campos, SP. Editora Fiel. 2006.
[2]Termo extraído do livro A Soberania Banida. Eis um livro obrigatório, a ser lido tanto por aqueles que comungam de seus argumentos soteriológicos como pelos que desejam prosseguir em refutá-los. Para esses, este livro será um excelente teste para saberem se estão dispostos em continuar, com base em convicções bem sedimentadas.

29 de ago. de 2010

Não há salvação pelas obras, porque não há bem naquilo que o homem obra.



O que a mente alienada de Deus, mancomunada com as trevas, de mãos dadas com o maligno jamais entenderá, é que a salvação em e por Jesus Cristo, se dá única, exclusiva e efetivamente pela graça e por ela somente. A graça de Deus não age na mesa da barganha nem na peita do “uma mão lava a outra”. Não espera ser correspondida pelo seu objeto de alcance, pois se assim o fosse tal graça reduzir-se-ia banalmente a uma mera recompensa, porém, uma recompensa inalcançável, inacessível, pois o objeto que por ela obrasse, a saber, o homem, jamais a alcançaria, posto que tal homem sem Deus, jamais moverá sequer um passo em sua direção, isso porque o veredicto dado pela Escritura Sagrada o desfavorece, neste julgamento do qual Deus é o supremo Juiz e aferidor da sentença:


“Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um.” (Sl 53.2,3)

Somos salvos pela graça, porque pelo mérito seríamos condenados. Somos salvos pela graça, porque falta-nos a justiça necessária para entrarmos nos “santo dos santos” sem sermos fulminados. O homem sem Deus é ímpio, pois anseia tenazmente vaguear na senda incerta que o mundo o enclausurou com seus pés mancos, ouvidos moucos, visão turva e coração irremediavelmente entenebrecido pelo pecado que guerreia contra a paz de Deus, aprisionando-o no neste pecado, à mercê de suas insólitas consequencias. A ordem do Senhor para os que desejam agradá-lo é “Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre” (Sl 37.3). Porém, se tratando dos que querem agradá-lo sem responsabilizá-lo pela força e vida, tal como a seiva da raiz é responsável pelo fruto dos ramos de uma árvore, fracassarão, pois “Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.” (Ec 7.20)

O ímpio não pode laborar a favor da verdade porque “Com as suas línguas tratam enganosamente” (Rm 3.13). Não podem com seu fôlego louvar ao Senhor porque sua “boca está cheia de maldição e amargura” (Rm 3.14). Não conseguem trilhar sua lida em busca do caminho que os leva á vida Eterna porque “Os seus pés são ligeiros para derramar sangue, em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz..” (Rm 3.15). Não hesitam em praticar a maldade porque “Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Rm 3.18)

Por essa razão, a salvação não pode estar sob ombros humanos, a depender de seu engajamento para satisfazer as exigências salvíficas, porque não há, e jamais haverá sequer uma partícula de luz no recôndito do seu ser a brilhar, deste para Deus, para que por essa suposta e utópica boa ação, seja por Deus conquistado e recebido para salvação porque "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém." (Jó 14.4). Analisemos a verdade da Escritura e o que por meio dela Deus nos revela. Se “do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.19) e “uma vez que tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.” (Tg 3.12), como então seria possível a essa vontade, submetida a uma força maior e antecessora que a controla, trilhar autonomamente, os retos caminhos de Deus? Se o coração do homem é fonte de toda sorte de pecados e se de uma fonte apenas, não seja possível jorrar simultaneamente uma torrente de água doce e outra amarga, então não há nada que esse homem faça para que por meio de méritos próprios se faça merecedor de Deus, praticando um suposto bem o qual se acha enganosamente capaz de fazer, isso porque o homem sem Deus é homem perdido, irreconciliável, destinado a condenação. 

Certamente, ante a essa exposição radical e radicalmente bíblica, alguns que são simpatizantes a salvação que segundo acreditam, se dá sinergicamente entre Deus e homem, me dirão que há um justiça no homem sim, embora inerte, porém a espreita, a fim de que ladeada da força de Deus, motivando este Deus a agir pela a ação primeira daquele, ajam juntos para benefício da salvação do homem, mas “Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?" (Jó 25.4) Ou ainda, que homem, que por sua própria capacidade “poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?” (Pv 20.9). Nenhum homem pode ir contra sua própria natureza dantes boa, agora caída em sua própria estultícia porque “Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.” (Ec 7.29) A Escritura Sagrada é a luz que vai adiante de nós, alumiando o caminho pelo qual peregrinamos, e por meio dela, Deus desnuda-nos e mostra-nos quem de fato somos, e o que somos sem Deus, não agrada aos ouvidos do homem sem Deus.

Enquanto da Escritura a voz de Deus estrondeia a composição de nossa débil natureza, o homem sem Deus busca iludir-se ostentando uma força que não tem isso porque “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (jr 17.9). Ao Olhar Deus dos céus a vida dos homens na terra, ele sentencia: “Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14.3). Se Deus, ao observar nossa frenética vida existencial, que gira em torno dos desejos que circundam o nosso umbigo, diz que ao homem lhe é impossível fazer o bem por si só, como se encorajam alguns a dizer que nos passos pelos quais se consuma a salvação, cabe o homem dar o primeiro passo a fim de que Deus, por meio de uma ação correspondente de honra ao mérito humano, responda-o dando o segundo passo? Que graça é essa, que espera o passo inicial de alguém e ainda se intitula de graça? Se alguém receber alguma coisa por merecer a isso não devemos chamar de graça, mas sim de soldo ou ainda salário e “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6.23). Se a morte é seu soldo merecido e a graça é dom gratuito ternamente concedido, então a morte é o que o homem merece, embora não receba (digo dos salvos) e graça é o que ele recebe embora não a mereça. 


A pergunta é: Se o homem é pecador e se sua nascente é má, sendo os desejos que dela elevam-se de igual modo corruptos, donde virá o suposto bem que alguns dizem o homem ter?  A Escritura diz: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão se não há quem pregue? (Rm 10.14). Ou seja, como crerão naquele (porque por si mesmos não podem crer) que pode salvá-los, e como o conhecerão, senão por meio da palavra que apresenta Jesus aos seus corações, bem como acrescenta-lhes a fé necessária para crer nele, ou não “foi o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia?”(At 16.14). Sim de fato foi Ele, isso porque aa fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). A Fé vem, não nasce do coração do homem, vem de quem a tem para concedê-la, ela vem “descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tg 1.17)

O homem sem Deus é tão imundo que se “tu, SENHOR, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá?” (Sl 130.3). Se Deus levasse em conta quem o homem é, nem ao menos sería estendido a nós a possibilidade de salvação. A Salvação iniciou-se não por um desejo de Deus em dar ao homem a oportunidade que lhe é de direito, mas sim “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,” (Rm 9.23). Os que resistem em se renderem à doutrina bíblica de que Deus é plenamente soberano e soberanamente responsável por tudo que aos homens é acometido, devem compreender que a Salvação é um ato arbitrário de Deus (Resultante de arbítrio pessoal; de ninguém mais além dele), no sentido de que ele não sofreu coerção, nem imposição para levá-la a efeito; Deus não é forçado a salvar para corresponder a alguma coisa que alguém possa ter feito a ele, pois “quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?” (Rm 11.35) ou como para cumprir um roteiro de final feliz que alguém possa ter escrito para que assim o fosse. Pois então se Deus quisesse julgar-nos por aquilo que somos, nós aqui não estaríamos por isso o rogamos a que “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente” (Sl 143.2). E se assim não quisesse agir, alguns inconsequentes entre os poupados, jamais estariam agora o indagando dizendo “Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?” (Is 45.9)
 
Isso não me assombra, pois não é outra coisa, senão a medida dos homens no cabal cumprimento das profecias de Deus. Não há sequer uma ínfima possibilidade de o homem ser bom levando sua salvação a seu termo e não há justificativas plausíveis para dizer que ele o seja ou possa vir a ser autonomamente, face ao mal do qual ele, o homem, está dolosamente envolvido jurídica e soberanamente responsabilizado por Deus. Desde a mais tenra idade, ou ainda, desde o início do seu “vir a ser” ele é mal, pois “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras”. (SL 58.3). 

Muitos são os que dizem que Deus, motivado por sua livre escolha de nos amar nos poupou do furor de sua ira, que justamente nos lançaria no inferno, onde a total separação com Deus imperaria eternamente. Somos alvos de sua infinita graça, de seu amor unilateral que jamais dependeu ou dependerá de seu objeto, de igual modo afirmam. Bom, então analisemos isso às últimas consequências. Se somos alvos de sua graça, o que de fato nós somos, então caso Deus optasse por agir de forma justa e não graciosa conosco, (o que ele fará com alguns), não poderíamos reprová-lo, nem argui-lo, pois estaria punindo-nos pelos erros que segundo nos constam, somos culpados. O que é culpa, senão o que Deus imputa em nos por sermos pecadores, e o que é graça senão a ação voluntária de Deus, em que, ao invés de permitir que sejamos ovelhas obstinadamente desgarradas, esse Deus, por si só e para si só, restitui-nos ao seu aprisco, buscando-nos quando não queríamos voltar, amando-nos quando o aborrecíamos, se entregando por nós, quando sequer beleza víamos nele para que o desejássemos? (Is 53.5) Sem Deus a nossa escolha seria o pecado, nada além de nos sujarmos no lamaçal do pecado “Porque o ímpio gloria-se do desejo da sua alma; bendiz ao avarento, e renuncia ao SENHOR." (Sl 10.3)

Se o homem nasce mal, isso significa que impossivelmente ele se tornará em algo além daquilo que ele inerentemente o é. Se caso houvesse no homem a capacidade de pelos seus próprios logros ser bom ou mau, tal ênfase que lhe é dada pela Bíblia, ao dizer que o homem é pecador seria incoerente, se caso lhe fosse possível ser um ou outro, bastando-lhe apenas correr atrás do prejuízo; mas isso, Israel bem que tentou. Com mãos sujas de sangue e templo profanado pela idolatria, Israel, pôs-se a tentar cumprir os mandamentos de Deus sem Deus. Mas o Eterno chamou o profeta e a seu povo por meio dele o exortou:

“Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” (Jr 13.23)

Portanto, salvação não pode acontecer pelas obras porque não há obras que lhe sejam boas, quando produzidas estritamente pela alçada humana.

Ainda alguém poderá perguntar: Mas por qual motivo faz-se necessário dizer tão enfaticamente que o homem é pecador? Além do fato de julgar tal proclamação relevante, pela razão de constarem tais declarações como minas na Escritura Sagrada, somente assim nós compreenderemos o quanto Deus se proclama como Soberano em nossa salvação. 

Somente assim entenderemos o Senhor Jesus a nos dizer que “sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5). Entenderemos Paulo quando diz que “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,” (2 Co 3.5), e assim daremos toda honra à Deus e sua justiça por estarmos onde estamos, nos lugares celestiais em Cristo Jesus, restaurados ao reino do filho do seu amor, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.                 Finalmente, assim, somente assim subiremos humildemente “ao templo”, não a esbanjarmos uma louca auto-justiça diante do Eterno, mas sim batendo a mão sobre ao peito, ao menear de nossa cabeça, certificaremos o quão indignos somos de seus favores, e assim declararemos, no grito de um suplicante pecador: “O Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18.13)
 
Graça e Paz
Mizael Reis