Procuro entre os arraiais cristãos, especialmente no meio onde estou inserido, uma genuína representatividade da mensagem cristã. Apresentem-me apenas um restolho, e ficarei satisfeito. Digam-me que há entre tantos jargões e clichês que banalizam a fé, uma luz advinda do sol da justiça, e converterei minha denuncia em elogios. Antes que seja mal compreendido, quando me refiro a mensagem cristã, trago a minha memória a cruz, e o episódio que nela se desenrolou. O Deus detentor do curso das estrelas, monarca do Universo que ao mais trivial acontecimento da história direciona, fez-se semelhante aos homens. Refiro-me a mensagem que alardeia que esse Deus, humanizou-se em nossa história, que de plena infinitude, se viu limitado em nossa medíocre vida e em nossa insignificante vida existencial, levou sobre si nossos pecados, de uma vez por todas, para o louvor de sua Glória. Deus amou não por ser amado, mas amou sem ser amado, pois ele é Deus que veio na forma do homem, quando o homem não o amava na forma de Deus (Fp 2.5,6) A mensagem fidedigna do evangelho, se faz evidente, quando vemos o homem sendo colocado em seu devido lugar, diante de Deus:
E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Ef 2.1-3
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Is 53.6
Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo; e que também o coração dos filhos dos homens está cheio de maldade, e que há desvarios no seu coração enquanto vivem, e depois se vão aos mortos. Ec 9.3
Eis o que somos. Eis o que nos tornamos. Eis para aonde nos leva nossa natureza vil. Não buscaremos a Deus, pois na verdade, nós o olvidamos, e o traímos. E agora, voltamos ao pó. Nosso agir está circunscrito à natureza que labora contra Deus, e ao mesmo tempo, arvora a favor do pecado.
Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce da mulher, para ser justo? Eis que ele não confia nos seus santos, e nem os céus são puros aos seus olhos. Quanto mais abominável e corrupto é o homem que bebe a iniqüidade como a água? Jó 15.14-16
Se tu, Senhor, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá? Sl 130.3
Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque. [...] Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias. Ec 7.20,29
Quem poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado? Pv 20.9
Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Rm 3.9-18
Os que afirmam que na natureza humana, pós-queda, possa existir alguma habilidade congênita, que o capacite meritoriamente a responder positivamente ao chamado de Deus, padecem por não conhecerem às Escrituras. Diante do que a Bíblia nos diz sobre nossa humanidade, e sendo tão má, é-nos impossível concomitantemente, trabalharmos a favor do bem, pois:
Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. Mt 15.19
Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. Tg 3.12
Jesus nos diz do que nosso coração é capaz. Ele desnuda-nos ante aos seus olhos, e mostra-nos a lama de nosso ser malévolo. Não há neutralidade (Livre arbítrio) em nosso coração, que inerte, espera que impulsos externos, quer bons ou maus, o motivem e incline-o para a sua ação correspondente. Não! “Nosso nome é pecadores, e pecadores é o nosso sobrenome” (Lutero). Houve um tempo em que Israel pensava que poderia satisfazer às exigências santas do Santo Deus, sem Deus. Mas Deus chama Jeremias à pena; e o profeta Pôs-se a escrever:
Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal. Jr 13.23
Livre entre os mortos, como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais te não lembras mais, e estão cortados da tua mão. Sl 88.5
“livre entre os mortos”. É assim que os puritanos conceituaram a liberdade do pecador, que a faz diferir quase diametralmente de uma autonomia neutra alegada. Ou como diria um teólogo, parafraseando tal conceito:
“A vontade é gota de água presa dentro de um cristal sólido”. (Oliver Wendell Holmes)
Paro por aqui, a fim de evitar com que o texto tome uma envergadura sistemática, (o que será feito em outra ocasião). Os textos acima são suficientes, para ratificar a verdade inquestionável de nossa fraca natureza que resiste à Deus, e que em nossa redoma pecaminosa busca saciar-se só pelo mal. Porém, há uma outra verdade inquestionável e insofismável, que nos resgata dessa nossa vã maneira de viver, e salva-nos por fim de nossa escravidão inexorável:
Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Rm 5.8
Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Gl 2.16
TENDO sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Rm 5.1,2
Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Rm 3.24-26
E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. [...] Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. 2 Co 5.18,19,21
Duas verdades têm sido esquecidas, pelo que volto ao clamor inicial do texto:
- Inabilidade do homem, por seu mau.
- Salvação advinda exclusivamente de Deus
E muitos pregadores de hoje, não pregam tais verdades, pois abandonaram o rigor que devemos ter, quanto a importância das Escrituras em nossas vidas, pois dela, depende toda nossa concepção de evangelho. Esqueceram-se da composição do coração do homem, e buscam, sem sucesso, por este homem de pé, exigindo deste, a força nos seus artelhos. Mas o soldo do homem é a morte, pois ele é pecador.
É isso que as Escrituras nos dizem, então é isso que somos e sempre merecemos sem Deus:
Porque o salário do pecado é a morte. Rm 6.23
E a Salvação é dom Deus, concedida ao homem por sua graça, sem as obras da Lei
[...] mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor. Rm 6.23
Não sei como vai o meio que você está inserido, só sei que no que me diz respeito, lamentavelmente digo: Procuro em onde estou essa mensagem, e não a encontro.
Graça e paz
Mizael
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